terça-feira, agosto 28, 2012

o dia que não terminou


Me sinto tão estranho aqui

Que mal posso me mexer, irmão
No meio dessa confusão
Não consigo encontrar ninguém
Onde foi que você se meteu, então?

Tô tentando te encontrar,
Tô tentando me entender,
As coisas são assim

Meus olhos grandes de medo,
Revelam a solução, a solução
Meu coração têm segredos
Que movem a solidão, a solidão

Me sinto tão estranho aqui,
Diferente de você, irmão
A sua forma e distorção,
Não pareço com ninguém, sei lá
Pois eu sei que nós temos o mesmo destino, então

Tô tentando me encontrar,
Tô tentando me entender,
Por que tá tudo assim?

Meus olhos grandes de medo
Revelam a solução, a solução
Meu coração têm segredos
Que movem a solidão, a solidão

Quem de nós vai insistir, e não
Se entregar sem resistir, então
Já não há mais pra onde ir
Se entregar a solidão e não

Meus olhos grandes de medo
Revelam a solução, a solução
Meu coração têm segredos
Que movem a solidão, a solidão 



domingo, agosto 26, 2012

sossega coração


Sossega, coração! Não desesperes! 

Talvez um dia, para além dos dias, 
Encontres o que queres porque o queres. 
     Então, livre de falsas nostalgias, 
     Atingirás a perfeição de seres. 

     Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo! 

     Pobre esperença a de existir somente! 
     Como quem passa a mão pelo cabelo 
     E em si mesmo se sente diferente, 
     Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 


     Sossega, coração, contudo! Dorme! 
     O sossego não quer razão nem causa. 
     Quer só a noite plácida e enorme, 
     A grande, universal, solente pausa 
     Antes que tudo em tudo se transforme. 

[Fernando Pessoa]


sexta-feira, junho 15, 2012

na tua claridade


Como se pousasses no meu coração e houvesse luz dentro das
minha veias e enlouquecesse suavemente; tudo é verdadeiro na
tua claridade:

pousaste no meu coração,

há luz dentro das minha veias,

enlouqueci suavemente.


[A.    Gamodena -  Trad.  Luís Costa ]


sexta-feira, maio 25, 2012

ne me quitte pas


Ne me quitte pas Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler Je me cacherai là
A te regarder Danser et sourire
Et à t'écouter Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir L'ombre de ton ombre
L'ombre de ta main L'ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas


quinta-feira, maio 03, 2012

a eterna busca no outro


[...] amei ou amarei várias vezes em minha vida. Isso acaso significaria que meu desejo, por especial que seja, estaria vinculado a um tipo? Meu desejo é pois classificável? Haveria, entre todos os seres que amei, um traço comum, um único, por tênue que seja (um nariz, uma pele, um jeito), que me permita dizer: este é meu tipo! [...] o amante passaria a vida inteira procurando “seu tipo”? Em que recanto do corpo adverso devo ler minha verdade?
[Roland Barthes]


quinta-feira, abril 19, 2012

procuro-me

De tão estranho que sou de mim.
Sou eu?
Espanto-me com o meu encontro...

[Clarice Lispector]


quarta-feira, abril 11, 2012

grito perdido

mundo de vozes perdidas
e onde apenas o eco
eternamente
repete as mesmas perguntas.

[Quintana]





terça-feira, abril 10, 2012

incondicional

Se amo, porque me amam, tem o amor causa;
se amo, para que me amem, tem fruto: e amor fino não há de ter porquê, nem para quê.
Se amo, porque me amam, é obrigação, faço o que devo;
se amo, para que me amem, é negociação, busco o que desejo.
Pois como há de amar o amor para ser fino?
Amo, quia amo, amo, ut amem: amo, porque amo, e amo para amar.
Quem ama porque o amam, é agradecido;
quem ama, para que o amem, é interesseiro;
quem ama, não porque o amam, nem para que o amem,
esse só é fino.

[Carpinejar]


quinta-feira, março 29, 2012

e ser tudo...

a rosa do nada


Ninguém nos moldará de novo em terra e barro,
ninguém animará pela palavra o nosso pó.
Ninguém.

Louvado sejas, Ninguém.
Por amor de ti queremos
florir.
Em direcção
a ti.

Um Nada
fomos, somos, continuaremos
a ser, florescendo:
a rosa do Nada, a
de Ninguém.

[Paul Celan – trecho de “salmos”]